Adaptação: exercício de transformação

Maria Lucia Padilha

O processo de adaptação faz parte da história humana e de outros seres biológicos. Adaptar-se significa passar por uma transição, ajustando-se ao novo, ao desconhecido, ao que lhe é estranho. Portanto, ao longo da vida nos adaptamos a cada novo momento ou desafio.

No ambiente escolar, tanto no período da Educação Infantil como no ingresso em outras fases da Educação Básica, família, educadores e estudantes vivenciam a complexidade de sentimentos que envolvem este processo.

Durante o processo de adaptação de uma criança pequena à escola, constroem-se diferentes vínculos entre os vários atores – alunos, família e professores. Por isso, planejar a chegada das famílias e a participação de cada um dos participantes é muito importante para que a experiência possa ser vivida com tranquilidade e se transforme em um marco positivo de ingresso da criança em um novo espaço social e educativo. Quando a experiência é positiva, crianças e famílias se sentem seguras e confortáveis, o que favorece a gradual vinculação com os adultos e pares com os quais o aluno conviverá no novo ambiente.

Outro aspecto importante a se destacar sobre a adaptação é o fato de que todos os envolvidos no transcurso interiorizam características do outro e se reconstituem se arranjando de formas diferentes; todos se modificam e se complementam. Mas, para que isto ocorra a contento todas as partes envolvidas devem confiar, acreditar, ter convicção de que o trabalho que realizam garanta à criança todos os direitos e possibilidades para se desenvolver com autonomia, se constituir como ser humano, compreender o mundo em que está inserida, expressar-se por meio das várias linguagens e conhecer o construto cultural da humanidade.

Como professora de Educação Infantil, vivenciei algumas situações de adaptações, algumas muito tranquilas e satisfatórias e, outras, mais complexas e desafiadoras. Relatarei uma delas para ilustrar como a parceria entre a família-escola-professora é fundamental para que todos superem, com êxito, este período.

Trabalhava com um grupo de crianças de 4 anos. No início do ano letivo, após permanecer e acompanhar o filho por um período, a mãe de um aluno que ingressara na escola, mostrava dificuldade em se despedir do mesmo. O menino, por sua vez, também mostrava resistência em deixá-la. Para conseguir deixá-lo, por vezes sua mãe aproveitava um momento em que estivesse distraído e saia sem se despedir ou tentava convencê-lo a permanecer conosco, dizendo que se ele ficasse bem traria presentes na saída, quando ambos iriam para casa.

Sabemos que nem sempre é fácil deixar uma criança chorosa na escola ou em qualquer outro ambiente, mas quando a sinalização é dada pela escola – que normalmente conversa com a mãe para mostrar os sinais que observa para fazer tal orientação – é importante que a mãe esteja confiante e que consiga se despedir da criança, confiando-a aos cuidados da escola. Somente a mãe, pai ou adulto responsável pela adaptação pode fazer a transferência e dar permissão para que o educador possa receber o novo aluno.

Para entregarmos uma criança aos cuidados de outro adulto precisamos confiar nele e, nem sempre este processo é vivido com tranquilidade. Precisamos pensar sobre as experiências que tivemos, se estas foram positivas ou não, precisamos conhecer como a escola trabalha, realizar conversas com a orientadora para explicitar os procedimentos que podem favorecer a adaptação do filho e, por fim, fazermos uma despedida seguros de que estamos em um momento do processo de adaptação em que manifestações de desagrado de sua parte, fazem parte e poderão acontecer. O choro da criança no momento da despedida dos pais não é sinônimo de que a criança não ficará bem. Ela pode ter ficado contrariada, preferir que a mãe fique com ela, mas se a entregarmos com segurança, confiantes de que ela desfrutará do espaço e das possibilidades de parceria e aprendizagem oferecidas, com o tempo a despedida ficará mais tranquila. Precisamos confiar na escola e estarmos atentos aos filhos durante seu processo de crescimento e entrada nos espaços de convivência que vão se descortinando ao longo da vida.

Em algumas situações, inclusive, pode ser preciso readaptar a criança à escola. Na chegada de irmãos, na mudança de casa, ou perda de alguém muito querido, as crianças podem se sentir inseguras e necessitar de uma nova adaptação. Escola e famílias devem estar atentas e conversar sempre que necessário.

Na situação que vivenciei com meu novo aluno e sua família, minha ação foi conversar e procurar mostrar à mãe que viver a frustração da separação era importante para o amadurecimento de seu filho, que ofereceríamos todo o acolhimento para que ele compreendesse que o período na escola seria divertido e rico em experiências com seus amigos de grupo e professores. Nos primeiros dias, ele ainda usou o choro ou reações mais explosivas como forma de demonstrar sua frustração, mas no decorrer do processo aprendeu a se acalmar e a procurar no diálogo comigo e outros educadores, nas afinidades com as crianças do grupo, nas diversas possibilidades que o ambiente  lhe oferecia maneiras para lidar com a ausência materna.

Enfatizamos, também, que o discurso da mãe para ajudá-lo a permanecer bem na escola deveria partir do lugar da “confiança” que passaria ao filho de que ele estaria seguro num espaço escolhido por ela, e que havia muitas atividades interessantes para ele fazer comigo, com outros educadores e coleguinhas até que retornasse.

A convivência na escola, com professores, outros adultos e crianças é um primeiro exercício de cidadania, pois oferece à criança oportunidades de escolha e autogoverno. Portanto, o olhar da instituição, a sensibilidade dos educadores envolvidos no processo, a escuta aberta das demandas da família, a segurança dos educadores no processo e a parceria de todos os envolvidos são itens fundamentais para que se inicie uma construção conjunta que favorecerá o percurso dos nossos pequenos na instituição educativa.

Lucia

Maria Lucia Padilha é pedagoga, tendo atuado como professora da rede particular de ensino por vinte anos. Atualmente é professora de Ensino Fundamental e Educação Infantil da Rede Municipal no Estado de São Paulo.

Referências Bibliográficas:

BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa & SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. Trd. Cristina Maria de Oliveira.

Dalbem, J.X. e Dell’Aglio, D.D. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. 2005.

REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA EDUCAÇÃO INFANTIL (Brasil).Independência e Autonomia. Volume 2.Brasília. MEC.1998.

Por que ler Contos de Fadas?

Patrícia de Souza Marques

“Há muito tempo…” ou “Era uma vez…” – assim começam histórias de encantamento e magia.

A leitura é um meio importante para a construção de novas aprendizagens e um caminho para o desenvolvimento da imaginação. Em casa, na escola e nos mais variados espaços pelos quais a criança circula, as histórias podem oferecer uma infinidade de descobertas e viagens, para a compreensão de mundos reais ou imaginários, de tempos próximos ou distantes.

Na escola, pelas mediações realizadas pelo professor, a criança aperfeiçoa a leitura, ganha fluência e abre portas para um percurso infinito de descobertas e de compreensão do mundo. Em casa, com os pais ou outro adulto leitor, ela se aproxima do universo literário e começa a organizar um repertório de histórias e procedimentos para poder adentrar, cada vez mais, nos contos, poemas e demais gêneros. Ler deve ser uma forma de entretenimento, um momento de prazer entre pais e filhos ou professores e alunos.

Os contos de fadas transmitem importantes mensagens não só para as crianças. Neles, encontramos o feio e o belo, o bom e o mau, o esperto e o bobo, o trabalhador e o preguiçoso. Por meio das atitudes e comportamentos dos personagens, a criança vai entendendo que há diferenças entre as pessoas, inclusive em uma mesma família, e que são possíveis uma diversidade de modos de atuação e vivências de sentimentos. Contos divertem, ensinam e favorecem o desenvolvimento da criança. Além disso, permitem-lhe  a fruição do imaginário, a ampliação da curiosidade e o desenvolvimento de formas para lidar melhor com dilemas, decepções e angústias.

As histórias encantam pelo prazer de transformar os sentimentos, transportar pensamentos, elevar os sonhos e a magia. Como nos diz Rubem Alves no texto abaixo:

“Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso. É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano. Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos. Claro que são para crianças. Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…” (Rubens Alves, 2003)

Porém, para despertarmos todo esse interesse e obter resultados significativos, o leitor mediador deve contar as histórias, com sentimento e encantamento, de maneira que a curiosidade e a fantasia da criança sejam despertadas. Claro que, dependendo das circunstâncias do ouvinte ou leitor, como: experiências anteriores com livros, estímulos recebidos, frequência a salas de leitura ou bibliotecas, teremos diferentes interesses e diferenças na compreensão e na capacidade de aproveitamento. Por isso, é necessário que a leitura seja oferecida, tanto para leitores mais vorazes, como para os iniciantes, com o mesmo cuidado, com procedimentos que favoreçam uma apropriação legítima e prazerosa deste instrumento.

A leitura propicia, ainda, o desenvolvimento das habilidades linguísticas e cognitivas. Mas, vale lembrar que a literatura não tem como única função, educar.  Certamente, aprendemos ao ler, mas este não deve ser o objetivo exclusivo da leitura!  Possibilitar um apreço pelas histórias, o contato com valores universais, o acesso a lugares e experiências diversas, a clareza na escolha do que se pretende ler, e a criação de um lugar afetivo trazido pela leitura de um título são os aspectos fundamentais para o desenvolvimento saudável de uma criança.

Educar é preparar para a vida e, nesse sentido, auxiliar a criança a encantar-se com as histórias, obter informações por meio de uma leitura científica e enriquecer seu repertório, ampliando as possibilidades de ser e estar no mundo, são oportunidades oferecidas pela leitura.  Leia para seu filho, viaje com ele, vá para um lugar mágico, onde tudo é possível, o mundo da imaginação.  Faça desse momento, um momento especial de carinho e trocas de experiências.

Com certeza ele pedirá:

–  Conte outra vez!!!!

Sugestão de Atividades: Leia toda noite uma história diferente para seu filho. Presenteie-o com um livro e reforce que irão ler juntos. Visite livrarias. Aproveite ao máximo esse momento de interação.

 

patriciam

A autora, Patrícia de Souza Marques, é educadora há dez anos. Formada em Letras, pós-graduada em Educação Infantil, aluna de Psicopedagogia da PUC-SP, Contadora de Histórias e voluntária na Instituição Viva e Deixe Viver, participante do grupo de estudos Projeto Cuca-Legal/Unifesp. Colaboradora http://mindseteducation.com.br/

Bibliografia:

BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. Tradução Arlene Caetano. 16ª edição. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1980.

ALVES, Rubens. As mais belas histórias de Rubens Alves. Lisboa. Edições Asa, 2003.

ATENÇÃO

Maria Adrielle Vicente

– Atenção! Preste atenção! Muita atenção!

Essas são expressões muito comuns nos dias de hoje, mas será que falta atenção? As pessoas não prestam mais atenção?

Atenção pode ser definida pela capacidade de selecionar e manter um foco, proveniente de um determinado estímulo ou informação, entre os vários que obtemos por meio de nossos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos.

Estímulos sonoros, luminosos ou olfativos, movimentos de objetos, mudança de ambiente são capazes de chamar a atenção de um bebê de forma automática. O mecanismo atenção é primitivo, involuntário e permanece conosco durante todo nosso desenvolvimento.

Imagine uma gama de estímulos vindos de diferentes fontes a todo tempo. Enlouquecedor, não? Para evitar uma desorganização funcional, nosso organismo faz uma seleção instintiva de estímulos para orientar e definir em qual deles podemos e devemos focar a atenção. A partir dessa atenção involuntária, inicia-se o processo de desenvolvimento da atenção voluntária, que está vinculada à conscientização do direcionamento da atenção.

Como uma função cognitiva complexa, a atenção é passível de treinamento e melhora se praticada intencionalmente. Nesse sentido se faz necessária e torna-se também imprescindível que a atenção seja estimulada rotineiramente, desde a infância, com o auxilio de jogos, brincadeiras, desenhos. Diversificar as atividades propostas para crianças é uma das estratégias interessantes para fixar a atenção, pois a rotina quando automatizada pode passar a ser desestimulante, dispersando o interesse e, consequentemente, diminuindo a atenção.

A atenção infantil é condição essencial para a maturidade escolar. Crianças de 3 anos são capazes de fixar a tenção numa atividade interessante durante, aproximadamente, 25 minutos. Depois desse período se distraem com grande facilidade. Com 5 ou 6 anos de idade a capacidade de concentração pode até triplicar.

Dados neurocientíficos ajudam a explicar porque isso acontece. A região pré-frontal é conhecida como um centro executivo. Essa estrutura, responsável pela nossa consciência e motivação, tem a sua maturação lenta e gradativa, acontecendo com o passar dos anos. O desenvolvimento completo dessa área cerebral ocorre por volta dos 18 anos de idade, ou seja, durante toda infância e adolescência nosso “centro atencional” está sob processo de desenvolvimento.

Na escola aumenta a exigência no que se refere à atenção do aluno: escutar, olhar, se posicionar… Nos anos mais avançados: escrever, interpretar, criticar… Mais tarde: memorizar, relacionar, ressignificar informações… Se a ideia for fazer com que a atenção do aluno se mantenha, é importante se voltar para o papel do professor. Um bom planejamento pedagógico, a criação de ação direta com o objeto e com os pares, uma interação denotada de significância para a criação, podem proporcionar entretenimento. Uma proposta que venha a somar ao repertório de impressões, percepções e relacionamentos do aluno é muito positiva. Vincular novidades a conhecimentos prévios e mediar o processo de desenvolvimento da atenção, estimulando e incentivando as crianças a conhecerem melhor o contexto em que estão inseridas, são atitudes fundamentais para o sucesso no aprendizado. Essas são práticas que ajudam a prender a atenção do aprendiz.

O fato das crianças fazerem várias coisas enquanto estudam, como por exemplo: ouvir música, usar o celular ou assistir TV, não quer dizer que elas não se concentram. Pais e professores acabam acreditando que isso pode afetar negativamente o aprendizado escolar e, muitas vezes, confundir essa facilidade – que é fruto da sociedade cibernética, com algumas patologias específicas relacionadas à atenção. Na maioria das vezes o problema de atenção é causado por cansaço físico ou mental e atividades físicas e práticas de esportes são capazes de reverter esse quadro, reestabelecendo a capacidade de atenção tanto em crianças quanto em adultos.

Sugestões de brincadeiras: Contar histórias, Jogo da memória e uso de games.

Autora: Maria Adrielle Vicente – Graduada em Ciências Biológicas pela UNESP, Mestra e Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Pós-doutoramento concluído no laboratório de Neuropsicofarmacologia, UNESP. Atua no setor de pesquisa e elaboração de projetos educacionais voltados para a aprendizagem socioemocional, autoconhecimento e neurociência.

MariaAdrielleVicente

Fontes:

VIGOTSKI, L. S. A psicologia e a pedagogia da atenção. In: VIGOTSKI, L. S. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 149-180.

Richards JE. Development of attentional systems. In: De Haan M, Johnson MH, eds. The cognitive neuroscience of development. New York, NY: Psychology Press; 2002.

Controle Inibitório

Essa semana a pedagoga Silvana Cracasso nos ensina porque é importante a controlar emoções intensas.

Controle Inibitório

Silvana Cracasso, pedagoga

Nos primeiros anos de vida a criança exibe um comportamento dirigido por estímulos e caracterizado por ações impulsivas. No percurso de seu desenvolvimento, adquire habilidades que lhe permitem antever suas ações e exercer certo controle sobre elas.

Dentre as funções executivas, o controle inibitório é a que mais se relaciona aos problemas cotidianos, sejam emocionais, cognitivos ou comportamentais. Sem controle inibitório, estaríamos à mercê de impulsos, antigos hábitos ou estímulos do ambiente que impõem determinados padrões de respostas nem sempre positivos.

Ser capaz de suprimir respostas inadequadas, ou não desejadas, a um determinado estímulo e tornar possível a modificação ou o manejo de um hábito, permite à criança avaliar múltiplos aspectos de um problema, detectando possíveis erros na execução de ações para corrigi-los. Resistir à tentação de tomar o brinquedo de outra criança, de reagir agressivamente a uma provocação ou de comer uma sobremesa deliciosa quando sua dieta não permite é um exercício da nossa capacidade de controle inibitório.

Assim como as demais habilidades abarcadas pelas funções executivas, o controle inibitório pode ser trabalhado com experiências dentro da sala de aula, por meio de jogos que diretamente desafiam, estimulam e podem desenvolver essas funções.

Sugestão de atividade:

Praticando habilidades para o autocontrole

Continuando a música

A professora inicia uma música que os alunos conheçam e os orienta para que procurem se conter e não continuem cantando quando ela parar de cantar. Eles deverão cantar somente nos momentos em que, depois de ter interrompido a canção, a professora bater palmas. Os alunos vencedores serão aqueles que conseguirem se conter e só seguirem cantando a música depois do comando da professora para que o façam.

 A autora, Silvana Cracasso – Pedagoga especialista em Psicopedagogia pela Universidade São Marcos; Dependência Química pela UNIAD/UNIFESP; Neuropsicologia pelo Centro de Diagnóstico Neuropsicológico – CDN; Neuropsicologia do Desenvolvimento pelo Depto de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina e, Aprimoramento em Neuropsicologia Clínica Aplicada à Reabilitação pela Clinica Saúde sob a orientação do Conselho Federal de Psicologia – CFP. Membro do Projeto Cuca Legal/UNIFESP de Prevenção em Saúde Mental e Emocional, desenvolve estudos, pesquisa e formação para educadores. Trabalha com prevenção, avaliação, intervenção psicopedagógica, estimulação cognitiva e formação em Educação Socioemocional para estudantes, educadores, corpo operacional e gestores escolares. Docente do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Clínica na Universidade Nove de Julho. Integra a equipe Mindset Education. http://mindseteducation.com.br/  http://afterschool.net.br/

 Silvana Cracasso

Fontes:

Tonietto, L., Wagner, G. P., Trentini, C. M., Sperb, T. M., & Parente, M. A. de M. P. (2011). Interfaces entre funções executivas, linguagem e intencionalidade. Paidéia. Ribeirão Preto, 21(49), 247-255.

http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/docs/textes-experts/adele_diamond_school_readiness_conference_2009-11_pt.pdf

Funcões Executivas: sim, é possível praticá-las!

Maria Adrielle Vicente

A Neurociência e as Funções Executivas

A Neurociência é um campo vasto e complexo do estudo do cérebro que está intrinsicamente ligado a outras áreas que também buscam conhecer o funcionamento do nosso corpo. O cérebro é responsável pela forma como processamos as informações, portanto, compreender seu funcionamento e as estratégias que favorecem seu desenvolvimento torna-se interesse dos educadores – professores, gestores, pais e outros. Um bom exemplo da contribuição da neurociência está no entendimento sobre as funções executivas.

Funções executivas são habilidades cognitivas necessárias para controlar e regular nossos pensamentos, emoções e ações. Quando praticadas intencionalmente, por meio de exercícios e jogos, possibilitam a criação de uma trajetória para o êxito.

Quatro categorias compõem esse conjunto de habilidades – o controle inibitório, definido como a inibição da resposta impulsiva ou automatizada; a atenção, definida como a capacidade de manter ou mudar o foco em uma determinada tarefa; a memória de trabalho, definida como o armazenamento e a atualização das informações e a flexibilidade cognitiva, definida como a agilidade em alternar as perspectivas ou o foco de atenção para ajustar-se a novas exigências ou prioridades.

O bom funcionamento executivo reflete diretamente no desempenho escolar e no bem-estar social.

Sugestão de atividade: Praticando habilidades para a atenção e memória

Ande e Pare

Antes de iniciar a brincadeira explicar as regras: enquanto houver música tocando as crianças circularão livremente pelo espaço da quadra, sem conversar ou esbarrar nos colegas. Assim que a música parar, os alunos deverão parar imediatamente e permanecer em silêncio. Desafios podem ser apresentados quando o professor aumentar progressivamente o tempo de espera do grupo ou diminuir progressivamente o volume da música.

A autora, Maria Adrielle Vicente, é graduada em Ciências Biológicas pela UNESP, Mestra e Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Pós-Doutoramento concluído no laboratório de Neuropsicofarmacologia, UNESP. Atua no setor de pesquisa e elaboração de projetos educacionais voltados para a aprendizagem socioemocional, autoconhecimento e neurociência. Integra a equipe  Mindset Education. http://afterschool.net.br/    http://mindseteducation.com.br/

MariaAdrielleVicente

Fontes:

http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/dossiers-complets/pt-pt/funcoes-executivas.pdf

https://www.york.ac.uk/res/wml/St-Clair-Thompson,%20gathercole.pdf

Por que as crianças precisam aprender a nomear emoções?

Sandra Vasques de Araujo

A importância de Nomear Emoções

Estudos atuais das Neurociências apontam que, para o pleno desenvolvimento  da  criança,  nos  diferentes  ambientes  pelos  quais  circula,  além  das  competências  cognitivas,  devem ser trabalhadas também as competências socioemocionais ou não cognitivas. As crianças lidam diariamente com muitas  emoções.  Sentem  raiva,  alegria,  tristeza,  frustração  e  reagem  a  esses  sentimentos de muitas maneiras –ficam eufóricas, gritam, ficam bravas e, por vezes, o fazem de maneira inapropriada. Vale dizer que todas as emoções são constitutivas dos seres humanos. Sem elas, não teríamos evoluído ou sobrevivido em outros tempos históricos.

A  necessidade  de  saber  identificar,  reconhecer,  entender  e  comunicar  as  emoções  é  bastante  destacada  no  trabalho  com  as  competências socioemocionais e tais habilidades são muito importantes para o processo de desenvolvimento saudável e integral das crianças. Essas emoções interferem na vida delas, mas, quando devidamente reconhecidas e nomeadas, além de  percebidas entre elas mesmas e adultos, as auxiliam a se relacionar  consigo  mesmas e com os demais de maneira menos conflituosa.

Pais e professores  podem e devem auxiliar a criança a expressar seus sentimentos, todos e qualquer um deles. É necessário criar oportunidades para  que  os  identifiquem e nomeiem em si  próprios  e  nos  colegas,  para  quebrar  paradigmas  impostos e possibilitar um processo  de amadurecimento mais efetivo. Conversar com as crianças sobre sentimentos ou sobre  uma  atitude que reconheçam como positiva e da qual se orgulhem, proporciona um espaço de validação para que a criança passe a agir mais tranquilamente durante esse  processo.

Encorajar a criança a falar sobre seus próprios sentimentos, ao invés de reagir a eles julgandoos, é fundamental. Apoiá­la, enquanto está  se manifestando, ensinando novas maneiras de se expressar e novas estratégias como, afastarse do conflitou ou pedir o auxílio de um adulto, devem ser desenvolvidas. Incluir  respiração  abdominal,  pedir  ou  oferecer  um  abraço  quando  ela  está  triste,  agitada  ou  eufórica,  também  são  exemplos de  estratégias  protetoras  para  a  criança.

Utilizar  uma  lista  de  palavras  que  amplie  as  possibilidades  de  expressão  da criança é útil no sentido de construção conjunta de um repertório que auxilie a  adequada expressão de sentimentos, criando um espaço de apoio, harmonia e saúde. Desta maneira, por exemplo, além de dizer que está triste ou brava, a criança poderá usar as seguintes palavras para melhor descrever o que sente:impaciente, com raiva, ansiosa, tensa,  desconfortável, solitária, envergonhada,  frustrada  ou  desapontada.  Para  situações  nas  quais  está  se  sentindo  muito  feliz  ou  alegre:  satisfeita,  orgulhosa,  aliviada,  triunfante,  eufórica,  animada,  entre tantas outras.

Quando  as  crianças  entendem  as  emoções  e  as  comunicam  de  maneira  assertiva  e  eficiente,  elas  podem  e  conseguem,  ao  reconhecê­las,  escolher  melhores  estratégias  para resolver  problemas  e  lidar  com  eventos  negativos,  ou  positivos,  desenvolvendo,  gradualmente,  a  percepção  sobre  a  perspectiva  do outro.

Sugestão de atividade:

Para  as  crianças  menores,  apontar  figuras  com  imagens  de  crianças  felizes,  tristes,  zangadas,  vibrantes  e  procurar  relacioná­las  a  possíveis contecimentos é uma maneira de colocá­las em contato com os sentimentos  próprios  e  de  outros. Empregar  palavras  que  a  criança  possa  entender,  usar  filmes  e  livros  também  são  boas  maneiras  de  desenvolver  um  trabalho  produtivo.

Autora: Sandra Vasques de Araujo Graduada em Pedagogia, Psicopedagogia e Pósgraduada em  Gestão  e  Currículo,  atua  na  Educação  há  34  anos,  nos  segmentos  da  Educação  Infantil,  Ensino  Fundamental  I  e  II.  Paralelamente,  atende  crianças  e  adolescentes  com  dificuldades  de  aprendizagem,  além  de fazer orientação de pais, supervisão de educadores e grupos de estudo sobre  diferentes  temas. Como  formadora  de  professores  e  gestores  trabalhou  junto  ao  CENPEC,  Fundação  Lemann,  Instituto  Vila  Educação  e  Instituto  Singularidades Integra a equipe Mindset Education. http://mindseteducation.com.br/ http://afterschool.net.br/

SandraVasques

Fontes:

http://csefel.vanderbilt.edu/documents/teaching_emotions.pdf (2016-06-09)

http://www.child­encyclopedia.com/sites/default/files/docs/coups­oeil/emotions­info.pdf (2016-06-09)

Competências Acadêmicas X Socioemocionais

Leticia Guimarães Lyle, Diretora Pedagógica

Tem sido frequente a discussão de que na escola devem ser trabalhadas não apenas as competências acadêmicas, mas também as competências Socioemocionais como forma de potencializar a aprendizagem dos alunos.

Atualmente existem alguns programas voltados para esse ensino no Brasil e no mundo. Iniciativas nacionais começam a levar esses programas para escolas particulares, municipais e estaduais em projetos que visam melhorar as competências cognitivas e não cognitivas dos alunos e prepará-los para enfrentar plenamente o Século XXI.

A seguir estão descritas algumas dessas competências e o que elas favorecem em relação às aprendizagens de crianças e jovens.

Autoconhecimento é a capacidade de reconhecer sentimentos, interesses e pontos fortes, e manter um bom nível de eficiência pessoal. Reconhecer dificuldades e facilidades (Payton et al., 2000) e posicionar-se em relação a isso influencia escolhas acadêmicas e a persistência para superar dificuldades.

Autocontrole permite a indivíduos lidar com situações de stress diárias e controlar suas emoções em situações difíceis. Essa capacidade de regular emoções impacta a memória e os recursos cognitivos utilizados em tarefas acadêmicas.

Sociabilidade permite que os indivíduos levem em consideração perspectivas alheias e sejam empáticos com outras pessoas. Alunos com habilidades sociais são mais propensos a apreciar diferenças e semelhanças nos outros.

Competências de Relacionamento permitem que alunos desenvolvam e mantenham relacionamentos saudáveis com outros, incluindo as habilidades de resistir a pressões sociais negativas, resolver conflitos interpessoais e buscar ajuda quando necessário.

Tomada de Decisões com Responsabilidade permite que alunos pensem sempre em múltiplos fatores, tais como: valores éticos, respeito e segurança (física e emocional) na tomada de decisões.

Brincadeira : O que ensino a um colega? E o que aprendo com ele?

Realizar, coletivamente e sob a supervisão da professora, uma lista com brincadeiras sugeridas por cada criança. Depois, sorteia-se o nome de uma criança da sala. A criança chamada deverá escolher um jogo da lista que queira aprender. O colega que nomeou o jogo ensinará aos colegas, a brincadeira. Depois, ele pedirá a outro colega que faça o mesmo. E assim, sucessivamente, até que todos tenham ensinado sua brincadeira e aprendido outra.

Autora: Leticia Guimarães Lyle é a Diretora Pedagógica do AfterSchool Educação, mestra em Desenvolvimento de Currículo e Educação Inclusiva com especialidade em Competências Socioemocionais pelo Teachers College da Columbia University. É sócia fundadora do Mindset Education, grupo que trabalha com projetos educacionais, atualização de currículo e formação de professores. Responsável pela adaptação do Programa Compasso Socioemocional e coordenadora de curso de Pós Graduação do Instituto Singularidades.

Leticia Lyle

Fontes

Porvir: http://www.porvir.org/especiais/socioemocionais/     (2016-05-05)

CASEL: http://www.casel.org/social-and-emotional-learning/core-competencies/     (2016-05-05)